Silêncio e solidão, o rio penetra mar adentro no oceano sem limites sob o céu despejado, o fim e o começo. Dunas imensas, límpidas montanhas de areia, a menina correndo igual a uma cabrita para o alto, no rosto a claridade do sol e o zunido do vento, os pés leves e descalços pondo distância entre ela e o homem forte, na pujança dos quarenta anos, a perseguia-la.
A menina volta-se e olha , mede a distância a separá-la do mascate, o medo e o desejo.
Ela não ouve o que o homem gritava mas mesmo sem saber advinha e responde:
-Béeee!!! -Assim cantam as cabras que ela pastoreia.
A menina deixa que o homem chegue bem perto - só entao dispara areia aciam ae do alto novamente canto o exigente e assutado chamado das cabras. De amor, não conhece outra expressão, outra palavra, outro som. O mascate apareceu e a menina aceitou o convite para o passeio de lancha, vinte minutos de rio, cinco de mar agitado e o explendor de Mangue Seco. Como resistir, dizer obrigada, mas não vou? Mentira: não a seduzira a corrida no rio, a travessia do pedaço de mar, nem sequer as dunas bem amadas desde a infância. A menina nao tenta inocentar-se.Recusara convites anteriores , o mascate a tinha de olho há tempos. Desta vez agora ela disse vamos, sabendo a que ia.
Quando, porém senta a mão pesada segurar-lhe o braço, o medo a invade inteira, da cabeça aos pés. Contém-se, no entanto, não busca fugir.
Nas duns de Mangue Seco, Tieta, pastora de cabras, conheceu o gosto do homem, mistura de mar e suor, de areia e vento. Quando o mascate a arrombou, igual à cabrita horas atrás, ela berrou. De dor e de contentamento.
(Trecho do Livro Tieta do Agreste - JORGE AMADO)
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