4 de fevereiro de 2008

Tem como amar duas pessoas ao mesmo tempo???

Segundo Mário Quintana:"O amor é quando a gente mora um no outro..."
Como posso dividir essa "casa" então em vários compartimentos?

Se você acha que ama duas pessoas é porque não ama nenhuma...Quando você ama de verdade você não tem dúvidas entre outra pessoa. O amor é sublime.Amor é algo que realmente preenche você, então você ama só uma pessoa de cada vez. O que pode acontecer é você ter atração, afinidade, encantamento ou tudo isso junto por mais do que uma pessoa de cada vez, mas aí você escolhe sempre aquela que você ama.Ficar com mais de uma pessoa por vez é desonestidade e sempre resulta em relacionamentos superficiais ou desgastantes.Estar confuso é porque não gosta de ninguém, quem ama não coloca em dúvida o seu amor.

Há diversos tipos de amor. Hoje eu quero falar sobre um tipo de amor bem específico: o amor romântico, aquele amor cantado nas músicas de Roberto Carlos e chorado nas de Adriana Calcanhoto. Se entendermos então a paixão e o amor como reações químicas, podemos afirmar que é possível que elas ocorram simutaneamente
Ao mesmo tempo em que tenho um amor companheiro e altruísta, posso cair na tentação de emoções disparadas por uma situação conspiratória nova que produza o frio na barriga, as mãos suadas, etc. e tal. Posso então amar e estar apaixonado ao mesmo tempo. Eu concordo com isso, sendo essa minha resposta para a pergunta provocativa colocada lá em cima. Amar duas pessoas? Não. Amar uma e se apaixonar por outra? É possível. No entanto, há ainda outras questões que se desdobram aqui.
Pensemos nas combinações. Primeira combinação: você pode estar apaixonado por alguém e não amá-lo. Você gosta de estar junto, curtir um chamego, misturar calorzinhos. E só. E só isso pode ser muito bom. Digamos que seja o típico "ficar" da moçada. Paixão instantânea. Corpo. Segunda combinação: você pode amar uma pessoa e não estar mais apaixonada por ela. Você quer tudo de bom para ela, se preocupa com seu bem-estar, com sua felicidade. Alma. Mas aquela sensação de coração disparado há muito não mais lhe visita. E você ama tão verdadeiramente a pessoa que é capaz de sacrificar sua própria felicidade na vida afetiva, permanecendo junto a ela até o fim da vida, só para não machucá-la. Há milhares de casais que vivem esse tipo amor. Terceira opção lógica: você pode amar e ser apaixonado pela mesma pessoa. Essa é a meu ver a situação ideal para um relacionamento. Nem só rock, nem só música clássica. Tudo tem seu momento. No entanto, essa perfeição requer muita coisa.
Pelo lado do amor requer, por exemplo, querer bem ao outro sem medida, evitar machucá-lo a todo custo. Fazer tudo o que for possível para seu conforto e bem estar físico e psíquico, priorizá-lo, pô-lo em primeiro plano. Tratá-lo não como nota de rodapé, mas como página principal da sua vida.
Pelo lado da paixão, requer descobrir a capacidade de descobrir um ao outro a cada dia, como se fosse o primeiro dia. Requer fazer loucuras de amor típicas dos apaixonados mesmo aos vinte anos de casado. Requer, do nada e sem motivo, saber provocar momentos de encantamento, com um tradicional, mas sempre eficiente, buquê de rosas ou com um filé ao vinho feito especialmente para um jantar a dois. Requer telefonar para o outro do nada ou mandar um torpedo de celular só para dizer o quanto gostaria de estar junto dele, o quanto o ama. Ou mandar um cartão por e-mail do trabalho naqueles dois minutinhos em que o chefe desgruda. Requer, por fim e entre outras coisas, descobrir como manter aceso o brilho no olhar do primeiro contato e a admiração pelo outro, que para mim é a super bonder das relações. Essas combinações são válidas, diga-se, para um relacionamento a dois: ou só paixão, ou só amor ou amor e paixão.
Mas pode acontecer dos espaços não ocupados virem a ter candidatos a complementar a equação. Se há amor e paixão entre um casal, não há espaço para mais ninguém. Se há só paixão fogosa, há espaço para um amor, que surgirá de outra paixão que depois vire esse amor. Se há só amor, o espaço da paixão, da pele, do desejo e da atração pode vir a ser pleiteado por um terceiro elemento, com ou sem risco para o amor. Será que sem risco? Bom aqui tem outro xis na questão.
Quem define as bordas entre amor e paixão é quem vive as situações. Se há espaço para novas paixões em um relacionamento onde há amor altruísta, esse espaço pode ser preenchido automaticamente por uma aventura que lhe faça suar de prazer. Ou pode ser visto como um sintoma de que a relação não anda lá bem das pernas, sendo necessário encarar o famoso “precisamos discutir a relação”.
Todos somos seres humanos e por isso vulneráveis. Todos desejamos e fantasiamos com outras pessoas além de nossos parceiros. Que menina gostosa! Que cara sarado! Wow, se eu pego essa aí! Olha que pitchula... Isso é normal. Desejar e fantasiar exercita a mente e sinceramente acho que é saudável porque funciona como a válvula da panela de pressão, deixando sair o excesso para não explodir. Reprimir o desejo é criar neuroses, já nos dizia o velho Sigmund. Possibilitar, permitir e concretizar o desejo de um terceiro no jogo são outros quinhentos. Se pode haver um ganho pelo preenchimento de um prazer desejado, pode igualmente haver a perda da capacidade de reconhecer que algo está errado e que precisa ser revisto.
Não há escolhas só com ganhos. Toda escolha tem perdas. E essa é uma escolha que pode pôr tudo a perder numa relação construída em uma sociedade como a nossa, oficialmente monogâmica. Chupando a frase do Guilherme Arantes, será que vale a pena tanta loucura por tão pouca aventura?
Talvez explicar relações pela ciência e por reações químicas não convença ninguém. Talvez você ache que sou idealista demais ou hipócrita demais. Talvez, quem sabe, eu tenha mesmo simplificado algo que sempre fugirá da nossa capacidade de compreensão, esse sentimento belo e complicado chamado amor. O que continuo afirmando, no entanto, é que imperioso não esquecer que em última instância somos nós que escolhemos entre as opções que a vida nos traz. É pesar e ver onde há mais ganhos e menos perda. A opção pelas perdas é masoquismo .

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