2 de fevereiro de 2008

Engano

Você procura algo. Como um predador. Mas não sabe o que é. Em certo momento, supõe saber. Agarra-se a esse algo e, ao descobrir-se enganada, depois de ter sugado e doado, em uma troca insana, larga a presa. Pois, não, não era isso o que buscava. Piedade não existe. A piedade é um rato fedorento que começa a roer pelas tripas. Como a esperança.

Negar sempre. Negar tudo. Até a si mesma negar se preciso. Quem não sabe o que quer, não sabe nada. E, se não sabe, posicionar-se a respeito de qualquer coisa inclui possibilidades de se assumir o que não se fez. Ou pior. Assumir o que se fez. Assumir, sem saber, inclui até mesmo as impossibilidades. E as impossibilidades, o legado do desejado e não satisfeito.

Porém, se por outro lado não tiver feito essas simples descobertas, pode ser que o aprendizado venha pela dor. Pois a dor faz parte do mundo. E você a conhece no outro. Causá-la por ignorá-la não a deixa imune de seu revés.

Insone, deitada a ler palavras no teto em línguas desconhecidas, verá a silhueta que se aproxima com o punhal. E, finalmente, sem saber mais o que fazer, deixará que esse espírito vingativo lhe arranque do meio do peito a flor seca e mal cultivada. Ele, que faz isso de um só golpe, sou eu, é o outro e o outro. Somos nós, todos os traídos por sua alma volúvel e pelos próprios julgamentos ingênuos.

Despencará a lâmina sobre a carne com o peso do que poderia ter sido mas que você não permitiu ser.

E, então, restará apenas uma coisa a ser dita.

Aqui jaz um mulher : amada sem saber se deixar amar, e amante, fatal para os que a amaram.

Jamais será esquecida.

Sorrir durante o dia e chora a madrugada, coração de mulher apaixonada acolhe sem olhar a quem.

Eu errei...
Mas jogue a primeira pedra quem jamais errou
Quem alguma vez na vida não se enganou
Pra que condenar se é mais fácil perdoar...perdoar...

(Alcione)

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