12 de janeiro de 2008

Mudar por amor em mudar?

Tenho uma crença: gosto de mudanças. Percepções e experiências tornam nossas vidas muito mais interessantes, quando deixamos que elas se façam presentes. Digo interessante, pois é como se, com isto, dissesse para mim mesma: "menina, você esta viva!".

Quando novas situações chegavam, desafiando toda minha segurança em minhas verdades enraizadas, eu me assustava muito, até perceber (neste últimos meses) que sou eu que gosto muito de experimentar novas formas.

Um exemplo disto mostra-se no fato de, num instante,tomar decisões nunca foi meu forte , mas as tenho que tomar e no momento seguinte fazer com que minha mente mude, vendo-o de outra forma. Este "fazer", que significa decidir por isso, muitas vezes não é tão simples e requer uma grande disponibilidade do meu coração para que, mesmo não acreditando, eu tente. E eu tento sem ter a mínima idéia do que virá após minha decisão. Outro fato que me levou à experiência semelhante de mudança, foi dizer não para algumas dependências emocionais de membros de minha família, que geravam sofrimento. Após esta decisão eu venho aprendendo a lidar com minha família com mais amor, poupando a todos de sofrimentos inúteis.

Pensando mais profundamente sobre mudanças, exercitei-me em tentar encontrar entre meus pensamentos o que realmente amo e se aquilo em que acredito é mesmo verdade. Deparei-me com sentimentos e situações que me geram medo. Atingi meu objetivo. Afinal, se já percebi o quanto gosto de mudanças, então nada mais efetivo do que investigar algo que me gera medo e tentar mudar esta percepção. Não para parar de ter medo, mas pelo menos vê-lo da forma verdadeira e lhe dar o peso que lhe compete.

Neste meu mergulho interior - aproveitando a energia da renovação e transformação que venho sentindo nesses últimos meses, nada mais amoroso comigo mesma do que aproveitar dessa energia e ser muito honesta com tudo isso. (Algum ser sábio me disse certa vez que temos que tomar muito cuidado com o que pedimos, pois é fato, se realiza). Então, senti que era hora de começar a perdoar a mim mesma pelo fato de não acreditar ser capaz de me vincular a nada nesse mundo. Tal crença começou muito cedo, pois desde pequenininha não via minha família, mamãe e papai, como meus pais. Sempre os respeitei, mas os via como amigos ou irmãos e nunca fui muito íntima nesta relação. Mesmo com um "gênio forte" ou coisa parecida, nunca fui alguém rebelde sem causa. Sempre busquei conhecer, me educar e valorizar sentimentos como amor, alegria, mas a fonte nem sempre vinha de meus pais. E assim cresci, sempre cuidei e fui cuidada por eles, e isso se estendeu por toda a minha vida escolar, onde sempre senti que não tinha muita vontade de fazer parte de grupinhos de amizades mas, curiosamente, sempre fazia parte deles. Tudo superficialmente, é verdade, mas muito questionadora, acabava por deixá-los tão malucos quanto a mim mesma.

O tempo passou. Cerca de anos depois dessa minha "birra" para com Deus, sentia que acreditava que Deus não me ouvia e, assim, tinha que viver sozinha.

O sentido da vida é realmente algo muito interessante. Indo mais profundamente na minha rebeldia para com Deus, me perguntei porque eu e outras pessoas duvidam da existência Dele, ou porque temos que acreditar Nele. Um questionamento que sei ser do ego. Então pensei novamente, porque senti no meu coração que não teria a resposta. O ego nunca nos dá respostas. Pensei sobre mudanças.

A mudança é como deixar que algo adentre sua vida, seus sentimentos, recepcionando o novo com todo carinho, como faz uma bondosa avó, mesmo sem ter certeza nenhuma do que irá acontecer depois com esse netinho. E fui mais fundo, percebendo que o que mais temia era o fato de me perceber abandonada por Deus quando ele não me ouviu naquela situação do passado. Finalmente, entendi como agia desde então.

Quando não compreendemos fatos e escolhas que nos envolvem direta ou indiretamente, tendemos a julgar. Julguei Deus. Julgando, percebi que foi a maneira que encontrei de tentar compreender o que as pessoas me diziam sobre um Deus bom, que me via como filha e que nunca me abandonaria. Mas Ele me abandonou! Equívoco! Eu o abandonei quando fiquei perdida, escolhi que não tinha o que fazer e algo externo a mim tinha que fazer por mim.

Meu coração ficou aliviado da culpa por ter abandonado a Deus. E, sem ter me dado conta antes, percebi que essa era a fonte de inúmeros sentimentos que cultivara até hoje, projetando em tudo que amo.

Fez-me pensar sobre a Fé. A fé não acontece quando acreditamos em alguma forma de medo. A fé vem da crença de que há uma forma diferente de encarar alguma coisa que pensamos já saber como funciona, mas que já não queremos mais pois não nos completa mais e, assim, naturalmente passamos a acreditar que outras formas existem e passamos a ter fé nessas outras formas.

A verdade não tem opções, ela é única. O ego sim tem opções. Aliás, muitas opções. Porém, para identificarmos a verdade no meio de tantas opções, é necessário disciplina. Não uma disciplina que vem diretamente da mente, às vezes com a mente não conseguimos acessar a verdade. Mas uma disciplina de percepções. Da mesma forma que nos disciplinamos a perceber e a viver tudo segundo o ego e suas ilusões, é possível nos disciplinar para perceber a verdade.

Digo disciplina de conduta, amor de conduta, simplicidade de conduta, uma fé no invisível, confiança no que percebemos com o coração. Essa é a conduta não pela busca de respostas, mas de certezas que envolvem o amor. São vias de interpretação muito diferentes. Uma nos exige o palpável, com provas. A outra não. E ainda assim sabemos que é verdade.

O amor está em nós, quer tenhamos consciência ou não. Isso não faz parte de nossas escolhas, é um fato. Mas se buscamos esse amor interior, perguntas egóicas perdem o sentido e temos que deixá-las ir embora. Inseguranças aparecem, mas temos que deixá-las ir, medos irão se intensificar, muito, mas ainda serão resquícios de uma disciplina treinada para o ego. A via que ajudará a acender a minha luz da liberdade é o outro caminho.

Visualizei isso no meu coração e senti que, sobre Deus, ainda tenho muito que aprender, seguindo esse novo caminho que venho, a cada dia, me disciplinando a ver. Mas, sei que são hábitos e vai requerer muito amor em mudar.....

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